sexta-feira, 30 de maio de 2008

A Geração Mais Estúpida - O que é burrice de fato?

Primeira parte: A Geração Mais Estúpida - Jovens estão mais burros?

Uma questão importante é saber o que Bauerlein tem em mente por “mais burro”. Se ele que dizer “saber o mínimo necessário”, então ele tem razão. A geração Y se preocupa menos em saber do que saber onde encontrar (se você está lendo isso online, alguns cliques responderiam facilmente a você as questões levantadas até aqui, Vice-Presidente, antigo chefe de justiça da Suprema Corte, Coréia do Norte e Coréia do Sul, Lago Superior). E é brincadeira pensar que empregadores estão gastando US$ 1,3 bilhão por ano em ensinar o conhecimento básico, como descobriu uma pesquisa de 2003 com gerentes. Se por burro se entende falta de capacidades cognitivas fundamentais e a capacidade de pensamento crítico e lógico, de analizar um ponto de vista, de aprender e lembrar, de ver analogias, de distinguir fato de opinião... bem, aqui Bauerlein está em terreno pantanoso.

Primeiro, os testes de QI em todos os países medem esses dados, inclusive nos Estados Unidos, e têm aumentado desde 1930. Já que os testes não medem conhecimento mas capacidade de raciocínio – o que os cientistas cognitivos chamam de inteligência fluida, já que podem ser aplicadas em qualquer área – a ignorância de fatos da geração Y (ou de fatos que os mais velhos acham importante) não se reflete em burrice por opção. E quem irá dizer que são burros porque poucos deles se importam em saber quem escreveu o oratório O Messias em relação a seus avós (que 35 por cento dos colegiais sabiam em 2002, comparado com 56 por cento em 1955)? Assim, suspeitamos que a queda na porcentagem de novos estudantes que dizem ser importante manter-se atualizado com assuntos da política, de 60% em 1966 contra 36 por cento em 2005, se relaciona, ao menos em parte, com o fato de que em 1966 os políticos determinavam se você seria apanhado e enviado para o Vietnã. A apatia de 2005 é mais um reflexo do que está fora da mente dos jovens da geração Y do que dentro, e acreditamos que esteja mudando, considerando a histórica candidatura de Barack Obama. Alienação não é burrice.

Buerlein não é o primeiro estudioso a culpar uma nova tecnologia pela falta de intelectualidade da nova geração (alguém se lembra da televisão?), neste caso acusada de ser a “geração digital”. Mas não há indícios empíricos de que estar imerso em mensagens instantâneas, ferramentas de texto, IPods, videogames e todas essas coisas online prejudique a habilidade de pensar. O Júri ainda está em andamento decidindo se essas tecnologias são positivas ou negativas” para a cognição, diz Ken Kosik, da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, co-diretor do Insituto de Pesquisas Neurocientíficas. “Mas elas decididamente estão mudando a maneira como o cérebro das pessoas processa a informação”. Na verdade, os princípios básicos da neurociência oferecem razões para otimismo. “Nos estamos mudando gradualmente de uma nação de mãos calejadas para uma nação de cérebro rápido” diz o cientista cognitivo Marcel Just, da Universidade Carnegie Mellon.” Na medida em que as novas informações tecnológicas exercitam nossas mentes e provêem mais informações, elas têm aumentando a habilidade de pensar”.

Nós achamos que mesmo os professores de inglês deveriam respeitar o fato de que correlação não implica causalidade: só porque a ignorância sobre os grandes lagos ou oradores aumentou com a era digital, isso não significa uma relação de causa e efeito. Para determinar isso, você precisa de informação. E não existe muita a este respeito. Um teste ideal seria difícil de fazer: para estudar o efeito da tecnologia digital no processamento cognitivo de uma maneira rigorosa, você precisa montar grupos de jovens que utilizam muito, pouca ou nenhuma tecnologia e segui-los durante alguns anos. Mas, como disse um dos rapazes de 19 anos que nosso grupo sobre as chances dele se candidatar voluntariamente ao grupo que não utiliza a tecnologia digital: “Você está fora de seu (deletado) juízo?”

O que se sabe com certeza é sobre o efeito de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, a múlti-tarefa: ela prejudica o desempenho momentâneo. Se você, por exemplo, falar ao telefone enquanto dirige, terá mais dificuldade de manter o carro na pista e reagir a imprevistos, como foi constatado este ano. “Múlti-tarefas forçam o cérebro a dividir recursos de processamento”, ele diz, “então mesmo que as tarefas não usem as mesmas regiões do cérebro (falar e dirigir não usam), há uma infra-estrutura compartilhada que fica sobrecarregada” . Multi-tarefas crônicas, como usar um SMS, ouvir ao iPod e atualizar seu perfil no Facebook enquanto estuda para a sua prova sobre a Renascença Italiana – também pode prejudicar o aprendizado, como sugere um estudo de 2006. Cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles liderados por Russel Poldrack escanearam os cérebros de adultos com idades entre 18 e 45 anos enquanto eles tentavam interpretar símbolos em cartas em silêncio ou enquanto contavam alguns bips que ouviam. Os voluntários conseguiram interpretar as cartas mesmo com a distração dos bips, mas quando perguntados quais eram as cartas logo depois, os múlti-tarefas se saíram pior. “As múlti-tarefa prejudica o aprendizado” disse Poldrack na época. “Mesmo que você aprenda dessa maneira, esse aprendizado é menos flexível e mais específico, então você não consegue reter a informação tão facilmente”. Tarefas de maior dificuldade, como aprender cálculo ou ler “Guerra e Paz” vão ser particularmente prejudicados pelas múlti-tarefas, diz o psicólogo David Meyer da Universidade do Michigan Universidade do Michigan: “Quando as tarefas são desafiadoras, há uma queda na performance múlti-tarefa. O que as crianças estão fazendo é aprender com habilidade, mas em nível superficial”.

Mas um teste de laboratório com cartas e vida real, entretanto, não é vida real. Alguns cientistas suspeitam que o cérebro possa ser treinado para a múlti-tarefa, assim como pode aprender a bater em uma bola ou memorizar o poema grego “A Eneida”. Em um estudo ainda não publicado, Clifford Nass de Stanford e seu estudante Eval Ophir descobriram que as pessoas múlti-tarefa deixam entrar uma grande quantidade de informações que poderiam ser consideradas distração ou falta de atenção. Mas múlti-tarefa ávidos parecem ser capazes de reter mais informações numa memória de curta duração e mantê-la claramente separada do que realmente precisam em relação ao que não precisam, diz Nass. Os altamente múlti-tarefa não ignoram (todos os sinais), mas são capazes de imediatamente se livrar do que é irrelevante. Eles têm uma espécie de mecanismo compensatório que anula as distrações e processam a informação que é relevante de maneira eficiente.

Até mesmo videogames podem ter benefícios cognitivos, além de coordenação ocular e conhecimento espacial sustentam alguns. No livro de 2005 "Everything Bad Is Good for You", “Tudo o que é ruim é bom para você” Steven Johnson argumenta que os jogos de fantasia como Dungeons & Dragons exigem muito cognitivamente, pedindo aos jogadores que construam fantasias narrativas elaboradas – ao mesmo tempo em que jogam dados de vinte faces e utilizam tabelas com um grande número de variáveis – “os jogadores precisam calcular de forma eficiente varias combinações de armas, oponentes e aliados “que deixariam a maioria das crianças chorando se você pusesse as mesmas tabelas num questionário de matemática”, escreveu Johnson. Eles precisam usar a dedução lógica para saber as regras enquanto avançam, como o uso de várias regras para evoluir, o que você precisa saber para avançar uma etapa, objetivos intermediários, saber quem é inimigo ou aliado. Os jogos te desafiam a identificar causa e efeito – Johnson descreve como SimCity ensinou seu sobrinho de 7 anos que altos impostos nas zonas industriais podem evitar que fabricantes se instalem ali – e como identificar objetivos intrincados como a necessidade de achar a ferramenta que pega a arma que derrrota o inimigo para cruzar o fosso para chegar ao castelo para (ufa!) salvar a princesa. Isso não é nada além dos testes de hipóteses e desafios de lógica, e jogos como Final Fantasy exercitam isso da mesma forma que descobrir aonde os carros viajando um em direção ao outro a uma distância de 450 Km, um a 50Km/h outro a 60Km/h vão se encontrar.

Ninguém sabe o que as crianças vão fazer como os conhecimentos cognitivos que eles adquirem salvando a princesa. Mas se eles simplesmente salvarem mais princesas, Bauerlein conseguirá provar que estava certo: A geração Y vai ser tornar não só a mais burra, mas também a mais egocêntrica e egoísta. (Seria pior se geração Y não se incomodarem com sua ignorância, desafiando a noção de que eles deveriam saber mais fatos concretos em suas mentes, como se sabia na época pré-Google e pré-wiki). Mas talvez eles possam estar aprimorando suas mentes para construir um carro mais acessível, para descobrir a diferença genética do câncer que se espalha daquele que não, e a identificar as causas e curas da intolerância e ódio. Estranhamente, Bauerlein reconhece que “as crianças nos dias atuais estão tão motivadas e espertas quanto sempre”. Se eles também são mais burros porque tem “mais diversões” e porque as atividades na tela jogam no lixo o material de leitura antigo - bem, escolhas podem mudar com a maturidade e diferenças nos mecanismos de recompensa, que mudou desde o mundo construído por seus antecessores. Escrever sobre qualquer geração antes dos trinta que é burro.

Traduzido por Eduardo Marcondes de The Dumbest Generation? Don’t Be Dumb - Newsweek

Para saber mais: A Internet DEIXA AS PESSOAS MAIS BURRAS?

Velocidade da web causará perda de memória, diz Umberto Eco

8 Motivos Pelos Quais Esta É A Geração Mais Burra

Índice do especial “A geração mais burra”:

· Artigo completo Especial “A geração mais burra”

ouça ou baixe a versão em áudio

1. A Internet cresce assustadoramente. Todo mundo quer acrescentar alguma coisa. Qualquer Coisa

2. Quem se importa em encontrar conhecimento na internet? Os jovens não!

3. Jovens desperdiçam tempo na Era da Informação com MSN, Orkut e blogs ao invés de conhecimento

4. Que é isso, professor? Os jovens estão ficando burros???

5. A cobra morde o próprio rabo, o excesso de informação prejudica o interesse pela informação

6. Com a falta de interesse pela informação de qualidade, os veículos de comunicação se concentram em dados irrelevantes

7. “Quem lê tanta notícia?” perguntou Caetano Veloso nos anos 60. Que diria hoje em dia???

8. A situação das empresas na era da informação – elas também sofrem

9. A angústia com velocidade da informação na internet vai piorar

10. Qualquer informação da Web serve? - os jovens não identificam mais informação ruim

11. Os jovens não querem mais saber de informação com qualidade

12. A web 2.0 empobrece a informação na internet

13. Mas, Professor Mark Bauerlein, talvez os jovens não sejam burros quanto o senhor diz

 

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Wagner Belmonte diz: