quarta-feira, 4 de junho de 2008

Especial “A geração mais burra”

A internet está mesmo criando uma geração de jovens burros, que não se interessam ou não reconhecem a importância do conhecimento?

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por Eduardo Marcondes

Ah, que maravilha os tempos modernos. Estamos no século XXI! Cada vez mais deixando a Era Industrial e mergulhando de cabeça na Era da Informação. São tempos mágicos... o bem mais precioso de todos? O conhecimento! Os computadores não são mais apenas máquinas que nos ajudam com um cálculo ou outro. Agora são equipamentos essenciais. Melhor ainda: aproximam distâncias, são protagonistas da globalização! Temos o mundo ao toque de um clique. Estão todos interligados por meio de uma rede mundial. Ninguém ousa duvidar que a internet é a principal das novas tecnologias de informação e comunicação.

O pessoal do século passado, de um tempo bem mais antigo que esse, dizia que o “papel aceita tudo”. Era um modo de sugerir que qualquer um podia escrever o que quisesse. Um alerta para que não se acreditasse em tudo o que se lê por aí. Sábio conselho. Se a frase tinha peso já nos tempos das folhas em branco, que afinal só aceitavam o que poderia ser marcado a tinta, que podemos pensar do ambiente virtual, que além de texto e imagens, aceita também o áudio e o vídeo? É... a internet aceita tudo sim! Tudo MESMO.

No entusiasmo com as novas tecnologias, ninguém duvida que a rede mundial de computadores está mudando os conceitos da comunicação. Afinal, a rede democratiza o conhecimento. Não apenas porque o conteúdo é acessível a qualquer um que tenha acesso, mas principalmente porque esse mesmo “qualquer um” pode participar produzindo seu próprio conteúdo. Por isso já podemos imaginar o dia em que a rede terá toda a informação que existe no mundo. Um projeto grandioso, mais ousado do que a Biblioteca de Alexandria. E se analisarmos o ritmo a que a rede cresce... isso parece estar mesmo perto de acontecer.

Quem duvida só precisa consultar os dados do site Netcraft , que registra a existência de nada mais nada menos do que 155 milhões 583 mil 825 sites em todo o mundo. Mas e... quantas informações existem neste ambiente? Bem, como o número de páginas em cada endereço da internet pode variar com a “precisão” de uma a milhares, poucos se arriscariam ao palpite sobre quantas existem. Mesmo assim, a Netcraft ousa dizer algo em torno de 30 bilhões de webpages. Seriam então cinco páginas para cada um dos seis bilhões de habitantes do planeta terra!

E esta quantidade surpreendente só faz aumentar. Ainda segundo a Netcraft, apenas em dois anos, entre 2005 e 2007, o número de sites na rede dobrou. E os principais responsáveis por este crescimento são os blogs, que já representam um em cada quatro sites na rede.

Isto significa que todos querem colaborar com seu quinhão. Ou, como diriam os imigrantes digitais (aquelas pessoas que vieram bem antes dos nativos digitais, que já nasceram no mundo informatizado) “todos querem meter sua colher neste angu”. Afinal, a rede é livre e basta querer participar.

Então, criaram-se os blogs, que facilitaram muito o trabalho. São ferramentas simples, uma espécie e diário eletrônico. Permitem que pessoas sem nenhum conhecimento específico de informática possam inserir informações na rede sobre qualquer coisa. Qualquer coisa MESMO! Desde amenidades como o dia em que levaram o cachorro ao veterinário até assuntos bem mais complexos, como as últimas novidades sobre o mundo da física

E tem alguém interessado neste material todo??? Claro que sim! Os internautas brasileiros que o digam. Do total de 40 milhões de pessoas com acesso a internet por aqui, um quarto, ou 10 milhões, são leitores de blogs.

Quem se importa em encontrar conhecimento na internet? Os jovens não!

Que legal! Mas peraí... um site sobre cachorro no veterinário... outro sobre física... como podemos separar o joio do trigo? Como saber o que é ou não é informação importante? Bem, quem observa com atenção os tempos modernos sabe que os blogs estão ganhando força e credibilidade , mas serão todos confiáveis? Será que todos foram abastecidos por fonte segura? Bobagem, essas são preocupações dos imigrantes digitais, aquele pessoal das antigas. Os nativos nem se preocupam mais com isso.

Qualquer pessoa que insere informação na rede logo procura as técnicas para conquistar um poderoso aliado na divulgação de seu material. Todos estão caprichando para receber os visitantes trazidos por mecanismos como o GOOGLE. São os buscadores que conduzem os internautas a qualquer texto na rede que responda às perguntas mais inusitadas como “pra que serve um alfinete espetado na orelha?” ou “Onde posso comprar uma chinchila?Os resultados serão oferecidos não importa quem tenha a resposta. Talvez isto explique porque 65% dos leitores chegam aos blogs por meio dos buscadores. Essa situação indica que os blogs das pessoas comuns, leigas, são totalmente dependentes dos buscadores.

Quem mais confia neste tipo de mecanismo são essencialmente os jovens, na faixa dos 12 aos 24 anos, explica José Calazans, analista de mídia do Ibope/NetRatings. O público mais amadurecido não é tão afeito à prática porque dá mais importância à questão da qualidade da informação. Claro que quem tem mais de 35 anos também acessa os blogs! Mas eles preferem encontrá-los nas capas dos portais que os abrigam, cuja credibilidade é reconhecida. Eles também preferem os diários de jornalistas de renome: “eles também selecionam e filtram mais informações obtidas em fontes amadoras”, diz Calazans.

Jovens desperdiçam tempo na Era da Informação com MSN, Orkut e blogs ao invés de conhecimento

No mundo todo, quem passa mais tempo conectado à rede mundial de computadores quando está em casa é o brasileiro! A média ficou em 22 horas e 47 minutos no mês de abril, segundo dados do Ibope//NetRatings. . E o que faz esse pessoal todo quando fica tanto tempo navegando pela Internet? Bem... o principal interesse deles está registrado na categoria “Buscadores, Portais e Comunidades”, que tem 19,8 milhões de usuários únicos, que prendem a atenção do usuário por 5 horas e 48 minutos a cada mês. É neste conjunto que estão incluídas as redes sociais como o Orkut, além dos Blogs. E quem navega por mais tempo são os jovens, que segundo esses dados não estão procurando por informações e conteúdo... eles estão é trocando mensagens em comunicadores instantâneos e por meio das páginas pessoais.

E este comportamento já começa a causar preocupação em educadores do mundo todo! O professor de inglês da Universidade Emory , nos Estados Unidos, Mark Bauerlein, por exemplo, está desesperado. Ele enxerga uma verdadeira tragédia em andamento e sai na ofensiva já no título de seu livro “The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future (Or, Don't Trust Anyone Under 30)" “A Geração Mais Burra: Como a era digital deslumbra os jovens americanos e compromete nosso futuro (Ou não confie em ninguém com menos de 30").

Que é isso, professor? Os jovens estão ficando burros???

Como é que é??? O professor acha que os nossos filhos, sobrinhos, irmãos ou primos estão ficando BURROS??? Bem, ele enumera os motivos de sua preocupação, e cita como exemplos o fato de que os jovens chegam a ridicularizar aqueles que demonstram estar bem informados nas redes sociais, e crava os dentes na jugular dos jovens integrantes da “geração digital” quando acusa a garotada de não gostar mais de ler livros... “Se contentam com “pequenas porções de conhecimento na rede mundial de computadores”. O professor está indignado porque “os nativos digitais vão à internet não para reter informação, mas para buscar a informação e passar adiante. A internet é só um sistema de entrega.”. Calma lá, professor... e a culpa é mesmo deles? Será que esse comportamento tão criticado por você não é causado pela realidade que os cerca?

Em “O Excesso de Informação a serviço da desinformação”, no site do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Natália Abrunhosa afirma que os jovens estão com um problema, mas diz que a causa é a facilidade com que acessam as informações na mesma velocidade de uma partida de videogame. “As pessoas passam a cultivar idéias em apenas 7 segundos, entre um "clic" e outro. Sem sequer filtrar ou discernir essas idéias. A internet tornou-se uma fantástica fábrica de reprodução de informações, que "pluga" as pessoas no anonimato e as conduz a um mundo onde são bombardeadas de informações dos mais diversos tipos.”

Pelo visto os intelectuais sabem que se eles fossem jogados em uma biblioteca com uma vastidão de informação, ficariam enlouquecidos! Por isso, não entendem como está acontecendo exatamente o contrário enquanto tanta informação está disponível no mundo virtual.

A cobra morde o próprio rabo, o excesso de informação prejudica o interesse pela informação

Em artigo para o Webinsider, Fabiano Pereira não esconde o espanto de observar o desânimo diante de tanto conteúdo. “Muitas vezes, a impressão que se tem é que o excesso desmotiva, desanima ou torna algo relevante em fútil, como se todo mundo soubesse do que se trata antes mesmo de ler. No final, temos um “círculo vicioso” de opiniões abalizadas baseadas no resumo do resumo do resumo, sugando, completamente, a essência e importância da informação original, jogando-a na vala comum das pequenas notas jornalísticas.”

O pior é que este excesso de informações gera uma ansiedade, que acaba anulando a falta de raciocínio crítico. Pelo menos é nisso o que acredita Natália Abrunhosa : “ Esse excesso de informação massiva gera falta de vontade de lembrar, perguntar, interferir. Cada vez mais, a evolução dos meios de comunicação (a internet, principalmente) vai provocando alterações nos comportamentos das pessoas de modo que essas vão perdendo velhos hábitos, como ler um jornal com calma, por exemplo. A substituição dos velhos livros e jornais pelo noticiário on-line é um fato. Com isso, corremos o risco de praticar uma leitura muito mais superficial e irrelevante do que antigamente.”

Bem, que a leitura em papel está sendo trocada pela leitura on-line é verdade. Uma pesquisa da ComScore mostra que os mais jovens, com idades entre 18 e 24 anos, consomem informação mesmo é pela rede mundial de computadores. Cerca de 38% chegam a admitir que simplesmente não lêem jornais impressos. A internet também aparece como veículo de importância nas faixas etárias entre os 25/34 e os 35/44 anos, mas entre eles a aceitação dos jornais impressos ainda é grande. Ler só jornais e revistas impressos sem interesse pelo que está na rede é coisa de quem tem mais de 65 anos, segundo o estudo.

Com a falta de interesse pela informação de qualidade, os veículos de comunicação se concentram em dados irrelevantes

Mais motivo para preocupação dos estudiosos! Segundo eles, quando as pessoas começam a abandonar o material impresso e preferem a simplicidade das informações on-line, eles influenciam até mesmo na qualidade daquilo que sai nos próprios jornais impressos... Mais uma vez, está formado o perverso círculo vicioso. Na entrevista "A web 2.0 é uma ameaça à cultura" na Revista Época, o pensador inglês que está entre os pioneiros da internet na Califórnia dos anos 90, Andrew Keen, lamenta a destruição da mídia tradicional, e afirma que estamos assistindo a uma morte lenta não só dos jornais, mas de toda a organização cultural como conhecemos até hoje: “A mídia tradicional não vai exatamente morrer, mas vai mudar dramaticamente. Os meios de comunicação de massa – que considero democráticos e onde conteúdo de qualidade é acessível pelo preço de US$ 10 ou US$ 15 para comprar um CD, assistir a um filme ou comprar um livro – talvez se tornem coisa do passado. Enquanto os utópicos digitais falam sobre democratização da mídia e do conteúdo, acredito que a conseqüência é o aparecimento de uma nova oligarquia. A tão propalada democratização, na verdade, tornará o entretenimento cutural de alta qualidade menos acessível às pessoas comuns.

Os jornais tentam reagir a este abandono das mídias tradicionais buscando atrair o público que já não quer se aprofundar. A questão também preocupa o Semiótico e Romancista Umberto Eco em entrevista ao jornal espanhol "El Pais" e reproduzida pelo caderno Mais!: “Vamos à internet para tomar conhecimento das notícias mais importantes. A informação dos jornais será cada vez mais irrelevante, mais diversão que informação. Já não nos dizem o que decidiu o governo francês, mas nos dão quatro páginas de fofocas sobre Carla Bruni e Sarkozy [atual presidente da França].
Os jornais se parecem cada vez mais com as revistas que havia para ler na barbearia ou na sala de espera do dentista.”

Fabiano Pereira também percebe esta falta de interesse, e identifica um motivo:“Nos tempos atuais, “ouvir falar” é mais importante que realmente saber, ter noções é mais do que conhecer a fundo; o excesso de oferta talvez assuste e desmotive a procura, trazendo uma sensação equivocada de “déjà vu” por antecipação, altamente letal para a cultura e para a sociedade, num momento seguinte, como conseqüência direta e sintoma mais pronunciado de uma glamurização da desinformação, ou algo que o valha.”

O fenômeno do abandono da qualidade da informação em busca de público, e a aproximação do que é notícia com o que é espetáculo imediatamente faz o professor de teoria de jornalismo Wagner Belmonte, da Universidade Santo Amaro, lembrar de Mc Luhan em “O meio é a mensagem”. “Quando o filósofo e educador canadense faz essa afirmação, e se a credibilidade dos jornais entra em conflito com a quantidade de informações, seguindo o que ocorre na própria internet, pode-se concluir que a mensagem está distante da proposta principal do meio, que deveria simplesmente informar." Aliás, Belmonte alerta que esse prejuízo na qualidade das notícias é uma caminho curto para uma traição até mesmo ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, no artigo segundo que estabelece: “a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica - se pública, estatal ou privada - e da linha política de seus proprietários e/ou diretores. A produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público”; além do artigo 4º, que determina: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação.””

“Quem lê tanta notícia?” perguntou Caetano Veloso nos anos 60. Que diria hoje em dia???

Mas, voltando à questão da ansiedade... como funciona essa tal ansiedade gerada pelo excesso de informação? E como interfere na maneira como elas absorvem essas notícias? Bem, o autor do blog Techbits descreve o desespero: “Há uns dois anos surgiu o podcast. Desde então fiquei viciado nessa nova modalidade de obter informação. Problema: os episódio duram uns 30 minutos em média. Se você assina 10 podcasts semanais, serão 300 minutos por semana, ou seja, 5 horas dedicadas ao podcast. Mas todo geek que se preza assina pelo menos o triplo disso. E alguns são diários… Não há ouvido que agüente. Um dos fatores limitantes cruciais de nossas vidas é o tempo. Só há 24h em um dia. É impossível acompanhar tudo. A solução é começar a filtrar melhor as informações.

Ele está certo. Filtrar as informações é a única saída! Do contrário, o excesso pode até fazer mal para a saúde. Acredite, é isso o que sustentam os especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo na reportagem Informação demais e mal-administrada faz mal

Eles esclarecem que o maior desafio do homem moderno é exatamente conseguir lidar com a avalanche de bits, números, frases, gráficos, sons, tabelas, imagens e afins presentes na vida a todo momento. "Se a pessoa não se organizar na hora de buscar e apreender as informações, priorizando as que são relevantes e descartando as que não são, esse processo vai ser caótico", diz o professor de neurofisiologia da Universidade de São Paulo Gilberto Xavier

Assim como acontece com os jornais, que vão se adaptando às necessidades desse público ansioso, os profissionais da Web também começam a reformular os conteúdos disponíveis na rede. Afinal, para que escrever demais a um público que simplesmente não vai ler? No livro Não me Faça Pensar, Steve Krug estabelece que para um projeto ser bem sucedido na Web, uma das leis a ser seguida é não fazer o usuário pensar. Em 127 páginas, o autor diz que as páginas de Web devem ser “vistas e não lidas” e ensina que é necessário facilitar de antemão a vida do usuário, eliminando palavras desnecessárias, ou seja, simplificando o conteúdo.

A situação das empresas na era da informação – elas também sofrem

Na outra ponta desta equação estão as empresas que também querem chamar a atenção do internauta, de olho nos consumidores em potencial espalhados na rede. Em reportagem para o site Clic RBS , André Crespani relata uma palestra em que o presidente da AG2, César Paz, demonstra que boa parte do conteúdo disponível nas empresas será descartado pelos internautas durante a navegação. Se isso for verdade, que fará um profissional da propaganda para que a campanha dele se destaque? Na visão dele, “as empresas precisam aprender a lidar com isso, e descobrir formas de associar suas marcas aos conteúdos produzidos fora das empresas e que acabam se tornando fenômenos "pop"”. Como exemplo, o palestrante pediu aos ouvintes que imaginassem os ganhos de uma marca que tivesse conseguido associar sua imagem ao famoso vídeo (imensamente acessado no YouTube) sobre o rapaz que tentava dizer a frase "as árvores somos nós" várias vezes, sem conseguir. Agora, alguns anos após o lançamento do vídeo, ele ainda é lembrado, e uma marca que tivesse se associado a ele seria, por conseqüência, lembrada também. É o que se convencionou chamar de marketing viral. O redator do blog Contraditorium chega a questionar no post “Se você reciclar, aí que vira lixo” se um vídeo com mais de um milhão de acessos no YouTube não teria sido uma dessas estratégias para promover um videogame.

Destacar-se em meio a tanta informação não é o único problema enfrentado pelos empresários. Outra questão importante é saber quais são, no meio de todo este emaranhado, as informações vitais para o avanço da empresa. Afinal, na Era da Informação, já está mais do que claro que o conhecimento faz a diferença. Por isso, administrar conhecimento se tornou uma questão estratégica. Como os empresários farão para encontrar dados cruciais para o seu crescimento no meio de tudo o que está na Internet?

O artigo Decisão empresarial e Internet , no site do centro de computação da Unicamp, de autor não identificado, revela que as empresas já buscam um profissional com especializado na administração, ou Gestão do Conhecimento, cujo principal objetivo é “fazer com que as empresas sejam tratadas como instituições, organizações que "aprendem" (learning organizations), através do gerenciamento dos processos de obtenção e utilização empresarial do conhecimento. [O tema] está sendo tratado de forma tão séria que as grandes empresas já possuem em suas estruturas organizacionais, um novo e importante cargo: o de Gerente do Conhecimento (ou CKO, Chief Knowledge Officer). O Gerente do Conhecimento pode ser visto com um técnico capaz de compreender como as tecnologias podem funcionar em termos de coleta, armazenamento, exploração e compartilhamento do conhecimento. Deve ser capaz também de tornar o ambiente corporativo propício a eventos e processos que facilitem a criação e a troca da informação. E sem dúvida, uma das principais atribuições do CKO é saber transformar o supersaturado sistema de informações que pode ser acessado via Internet em conhecimento útil à gestão e às decisões empresariais”

A angústia com velocidade da informação vai piorar

Se as pessoas já estão ansiosas com toda essa quantidade de informação disponível hoje em dia na velocidade do acesso e a rapidez dos cliques... prepare-se... vem mais por aí! Há muitos anos Umberto Eco está preocupado com a velocidade do modo de vida, que só vem aumentando. E este processo ainda não chegou ao fim. É o que se lê na entrevista publicada no jornal espanhol "El Pais" e reproduzida pelo caderno Mais!: “Tudo o que existe agora será obsoleto dentro de pouco tempo. Até o e-mail será obsoleto, porque tudo será feito com o celular. Talvez as novas gerações se acostumem a isso, mas existe uma velocidade do processo que é de tal calibre que a psicologia humana talvez não consiga adaptar-se. Estamos em velocidade tão grande que não existe nenhuma bibliografia científica americana que cite livros de mais de cinco anos atrás.
O que foi escrito antes já não conta, e isso é uma perda também quanto à relação com o passado
.

Ele alerta que o pior é que esse descarte do passado pode ter conseqüências: “esse é um de nossos problemas contemporâneos. A abundância de informação irrelevante, a dificuldade em selecioná-la e a perda de memória do passado - e não digo nem sequer da memória histórica. A memória é nossa identidade, nossa alma. Se você perde a memória hoje, já não existe alma; você é um animal.
Se você bate a cabeça em algum lugar e perde a memória, converte-se num vegetal. Se a memória é a alma, diminuir muito a memória é diminuir muito a alma.”

Ainda na questão do processo que se auto-sustenta, Ronaldo Ronan Oleto em entrevista ao Lote Cultural acrescenta motivos para preocupação quando lembra que a falta de embasamento teórico dos internautas agrava a situação ainda mais. Talvez seja por causa disso que os mais jovens já não se preocupam ou não conseguem identificar se existe credibilidade naquilo que lêem, e não sabem mais separar o joio do trigo:

Qualquer informação da Web serve? - os jovens não identificam mais informação ruim

Os blogs transmitem informação. A qualidade da informação que eles apresentam é o usuário que determina. Um pode estar interessado em “desinformar” e a informação que ele julga errada é aquela que atende às suas necessidades e, portanto, de qualidade para o seu uso. A maioria deseja o inverso. Nessa disputa entra a informação certa e a errada, a informação com qualidade e sem qualidade, entra a questão da relatividade. A informação só poderá ser qualificada se houver a possibilidade de relacioná-la com algum dado ou informação. Se não houver a possibilidade de qualquer comparação ou relação não se pode adivinhar se a informação é certa ou errada. Se eu ler num blog que a população do Brasil é de 100 milhões de pessoas e em outro de que é 188,5 milhões, somente a partir de uma comparação/relação com outra informação será possível decidir qual a certa, assumindo o atributo confiabilidade importância relevante para essa decisão.”

Na entrevista "A web 2.0 é uma ameaça à cultura" na Revista Época, o pensador inglês que é um dos pioneiros da internet na Califórnia dos anos 90, Andrew Keen, faz coro aos avisos de que a falta de pano de fundo transforma os jovens em ingênuos consumidores de qualquer informação da Internet: “Não tenho problemas com a blogosfera se você ler o jornal antes. A blogosfera depende de a pessoa ser familiarizada com a mídia sofisticada. Se você está familiarizado com notícias, se entende como a tecnologia funciona, a blogosfera pode ser útil. Mas preocupa-me que, especialmente para os jovens, a blogosfera se torne uma fonte substituta de notícias. Eles acreditam em tudo o que lêem, então me preocupo que a blogosfera se torne forte numa sociedade em que as crianças não fazem a menor idéia de como ler “através” das notícias. Elas estão perdendo sua capacidade crítica. Você sabe que o The New York Times é pró-Israel e socialmente liberal. Sabemos que o The Wall Street Journal é editorialmente muito conservador. Não há jogos, é óbvio, você pode ler através. Em muitos blogs, não.”

Os jovens não querem mais saber de informação com qualidade

Além do problema da falta de avaliação, Ronaldo Ronan Oleto percebe que os jovens estão acomodados com a situação de serem meros retransmissores de informações, sem o devido cuidado de absorvê-las. É o que acontece com os alunos que simplesmente copiam material da internet e entregam ao professor para se livrar dos trabalhos escolares: “Se esses dados são repassados diretamente para o papel a ser entregue ao professor eles não se tornaram uma informação e nem geraram um conhecimento. Ou seja, o aluno perdeu seu tempo em busca de nota (pontuação) sem o correspondente aumento do conhecimento. Enganou a si próprio. Quando ele, por outro lado, busca um texto ou artigo (dado) na internet, estuda-o e incorpora-o, consciente, ao seu trabalho escolar ele obteve informação relevante e aumentou o seu conhecimento. Cresceu pessoal e intelectualmente.”

O pior é que a turma que repassa a informação pode estar usando as fontes erradas. Esta é a preocupação do jornalista Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa, em “Referência fast-food”, na Revista Carta Capital, com o subtítulo “A qualidade de boa parte da informação oferecida pela Wikipédia, a enciclopédia das novas gerações, está abaixo da crítica”. No artigo ilustrado com dados incorretos ou duvidosos pinçados na Wikipedia, o jornalista questiona a relevância das informações oferecidas na fonte de informação mais usada pelos jovens estudantes. E lamenta a falta de critério na seleção do material: “gerações anteriores de estudantes de classe média usaram a Barsa, a Mirador ou a Larousse da família, às vezes até uma biblioteca. Copiavam, claro, mas ao menos tinham de ler o texto para passá-lo ao papel almaço com a caneta. A atual tem uma só referência e gasta menos tempo. Em “Só faço trabalho com Wikipédia”, comunidade do Orkut, uma usuária escreve: “No Google aparecem várias coisas e a gente não sabe qual está certa... Já na Wiki vai diretinho!” Outra responde: “É bom porque não precisa gastar tempo procurando, é só ir lá que o trabalho já está feito. O único trabalho é apertar Ctrl+c e Ctrl+v, mandar imprimir e acabou...” Estudar com base nos verbetes da Wikipédia é pôr em risco tudo o que se aprendeu, se não a sanidade mental. Uma advertência do ministério competente não estaria fora de lugar.”

A Revista Veja na reportagem “Todo mundo dá palpite”, relata a batalha constante dos editores voluntários da enciclopédia virtual para manter os artigos isentos e corretos, sem muito sucesso, também alerta que “a quantidade de intervenções transmite um aviso: não acredite em tudo o que você na Wikipedia”

A web 2.0 empobrece a informação na internet

Pelo visto, segundo as duas revistas semanais, o que torna a qualidade do material na Wikipédia ruim é justamente o conceito de que qualquer pessoa é capaz de inserir informações livremente, sem critérios como autoridade para discorrer sobre determinado assunto. A idéia de que a obra em constante “evolução” seja criticada justamente por essa falta de credibilidade irritou profundamente os entusiastas do conceito definido como Web 2.0 (clique aqui para ler mais sobre a Web 2.0 na Wikipedia, sua própria representante). Apesar de Coelho da Costa não estar sozinho em suas críticas, é inegável o sucesso do sistema “Wiki”, que já começa a dar origem a outros projetos ainda mais ousados, como dicionários, guias de viagem e até mesmo a cobertura de eventos no mesmo sistema colaborativo, em que todos podem participar e alterar o conteúdo, num “registro a muitas mãos”, como definido em artigo do Observatório da Imprensa.

Ainda segundo a Revista Época, Andrew Keen escreveu um livro , The Cult of the Amateur (O Culto do Amador), para afirmar, sem meias palavras que o conceito de registros a muitas mãos é uma picaretagem que “nivela por baixo a produção, piora a qualidade da informação e ameaça a cultura (...) porque cria a ilusão de que todos somos autores, quando, na verdade, deveríamos ser leitores. Dá às pessoas ilusão sobre suas habilidades. Todo mundo tem algum talento, mas a maioria de nós realmente não tem muito a dizer. Somos melhores lendo um jornal ou assistindo à televisão do que tentando nos expressar na internet.

Mas qual o problema de aceitar a colaboração de todos? Keen responde: “Na mídia tradicional há meios de checagem. Se você não é anônimo, todos sabem quem você é, para quem você trabalha. No mundo on-line, não sabemos quem são essas pessoas que operam em sites como Digg.com (o site que estabelece um ranking de notícias interessantes com base no voto de internautas), Reddit ou Wikipédia. Elas poderiam estar num programa do governo, numa organização terrorista, numa corporação, como Wal-Mart ou Exxon Mobil, colocando conteúdos no YouTube, na blogosfera, fingindo que isso é independente. Isso nos deixa à mercê de uma nova oligarquia, num mundo onde é mais difícil checar a verdade que na mídia tradicional.”

Keen também não acredita na teoria da “sabedoria da multidão”, que seria o resultado da contribuição de todos numa imensa obra coletiva: “Na teoria, a sabedoria da multidão pressupõe o envolvimento de todos. Nesse caso, todo mundo estaria envolvido, todo mundo estaria editando a Wikipédia, todo mundo estaria adicionando recomendações no Digg ou no Reddit, todo mundo estaria adicionando resenhas no Amazon e talvez isso fosse um bom trabalho. Mas, na realidade, a maioria de nós não faz isso porque não tem tempo, interesse ou energia.”

Críticos e um lado e entusiastas do outro o fato é que acusar as novas gerações de burrice é mexer em um vespeiro. A campanha do jornal O Estado de São Paulo que questionava a credibilidade das informações disponíveis nas redes causou reação inflamada entre os blogueiros e tirou o sono dos editores do diário chegando a render um debate promovido pelo próprio jornal.

Mas, Professor Mark Bauerlein, talvez os jovens não sejam burros como o senhor diz

Talvez para conquistar a fidelidade do publico jovem, que causa a preocupação dos intelectuais,a mídia tradicional também reagiu. Numa resposta ao livro “The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future (Or, Don't Trust Anyone Under 30)" , (“A Geração Mais Burra: Como a era digital deslumbra os jovens americanos e compromete nosso futuro (Ou não confie em ninguém com menos de 30"), de Mark Bauerlein, a revista Newseek divulgou um extenso artigo em que reconhece através de dados que a juventude parece mesmo estar desinformada sobre os assuntos mais básicos da realidade (americana), mas desde o início do texto minimiza a importância dos alertas esclarecendo que o espanto dos mais velhos com a ignorância dos mais novos vem desde a civilização grega. Por fim, pondera que, se falta de cultura for burrice, pode Bauerlein até ter razão em suas afirmações, mas se o autor do provocativo livro quis dizer falta de habilidade para adquirir conhecimento então ele está errado. A revista cita estudos científicos para comprovar que a geração da internet e do videogame está adquirindo novas habilidades com jogos que estimulam claramente a cognição. Por fim, o texto conclui “Ninguém sabe o que as crianças vão fazer como os conhecimentos cognitivos que eles adquirem salvando a princesa (nos jogos). Mas se eles simplesmente salvarem mais princesas, Bauerlein conseguirá provar que estava certo: A nova geração vai ser tornar não só a mais burra, mas também a mais egocêntrica e egoísta. Mas talvez eles possam estar aprimorando suas mentes para construir um carro mais acessível, para descobrir a diferença genética do câncer que se espalha daquele que não, e a identificar as causas e curas da intolerância e ódio. O tempo vai dizer quem tinha razão.

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3 comentários:

Prof. Eduardo Queiroz disse...

Olá.

Como professor universitário posso concordar com o texto com absoluta confiança. Não é incomum trabalhos copiados da Web, aliás há aqueles especializados nisso, como o www.zemoleza.com.br
Mas isso não é o pior. Como o jovem não lê, não sabe interpretar textos e comete erros inimagináveis de ortografia, fora que esta deficiência é alimentada pelo "vício" da forma abreviada de escrever em e-mails ou MSN. Acreditem ou não, o aluno acha que o correto é escrever assim.
A falta da capacidade analítica das informações é assombrosa e causada não apenas pela falta de leitura, mas também pela falta de acesso à cultura de forma geral e por uma educação extremamente deficiente. O que dizer de um país em que não existe reprovação no ensino público e que aprova supletivos onde você pode completar ou fazer seu ensino médio em 90 DIAS!!!
É isso aí, no Brasil o cai o analfabetismo e aumenta o ingresso de classes sociais menso favorecidas no ensino superior, sendo que a grande maioria dos alunos são os chamados analfabetos funcionais, ou seja, sabem ler (ainda que mal) mas não sabem pensar.

Tempos sombrios os da educação brasileira atual...

Eduardo Queiroz

Eduardo Marcondes disse...

Pois é, acabei não citando o zemoleza, eu já tinha ouvido falar. Um absurdo, né? Meu amigo Wagner Belmonte, que dá aula de teoria de jornalismo, já me mostrou: pegou um trabalho de um aluno, escreveu as primeiras palavras no Google e bingo: não é que achamos um site com um texto igualzinho???

Uma tristeza, porque a geração digital acha que está sendo esperta. Não são poucas as comunidades que tiram onda de que "o google me salva nos trabalhos", ou "o professor pede trabalho, na véspera vc fala PQP e quem salva é a Wikipedia - é só COPIAR E COLAR.

Ou seja... a molecada se gaba das estratégias. O que mais me entristeceu nessa história toda foi ler que os mais novos não têm referências de informação, então aceitam qualquer abobrinha da net como verdade. Estão deixando de APRENDER. Se um de nós, da velha guarda, deparasse com um texto dizendo, por exemplo, que o homem nunca foi à lua, saberíamos que é mentira...

já os "nativos digitais'... periga acreditarem! Que coisa...........

Anônimo disse...

O download do podcast tá com link quebrado.

Wagner Belmonte diz: